Mara
Mansani conta como foi difícil - e recompensadora - a experiência com Fernando,
seu primeiro aluno com autismo.
Por:
Mara Mansani
Ilustração: Getty Images
Tenho
vivido experiências difíceis, mas maravilhosas, com alunos com deficiência. É
sempre um grande desafio para qualquer professor. Muitas vezes fiquei
apreensiva, chorei, reclamei, procurei ajuda e orientações, mas o mais
importante de tudo, nesses momentos, foi me libertar de preconceitos e
descobrir que, apesar de algumas limitações, todos têm potencial para aprender.
Há alunos que aprendem de um jeito diferente, outros precisam de um tempo
maior e uma pequena conquista pode significar um grande avanço na aprendizagem.
Mas todos podem e têm direito de aprender.
A
experiência mais difícil que vivenciei com aluno com deficiência foi com Fernando.
Na época com oito anos de idade, ele tinha autismo em grau leve. Logo no
primeiro dia, sem preparo e cuidado, cometi um erro: na acolhida fiz um carinho
em sua cabeça e Fernando se encolheu todo, ficou nervoso e agitado. Dei-me
conta que o toque e a interação com outra pessoa era difícil para ele. Levei
tempo para acalmá-lo. Todos ficaram assustados, Fernando, eu e os demais
alunos.
Ele
passou o restante da aula sem querer participar de nada. No mesmo dia,
conversei com a coordenadora pedagógica da escola, pois precisava de apoio e
orientação para saber lidar com a nova situação e desenvolver a aprendizagem de
Fernando. Juntas estudamos, experimentamos possibilidades e procuramos ajuda
com psicólogos e psicopedagogos. Assim, as coisas começaram a se acalmar e a
tomar um rumo positivo.
Fernando
sabia ler e escrever e, apesar de muitas vezes não querer ou não conseguir
registrar as atividades, avançava no conteúdo. Ele tinha uma capacidade
auditiva e visual incrível para aprender. Por isso, muitas vezes adaptei as
atividades aproveitando recursos orais e visuais para que ele participasse
melhor.
Ele
apresentava certa dificuldade em falar, às vezes repetia frases, mas era
compreendido por todos. Não aceitava mudanças em nossa rotina em sala de aula e
não suportava muito barulho. Descobri que isso são características do autismo,
então, passei a ter mais cuidado em alterações nas aulas e conversei com as
outras crianças para que tomassem mais cuidado com o barulho excessivo.
Isso
contribuiu para que todos tivessem momentos mais tranquilos em sala. No início,
os alunos estranhavam. Não o compreendiam muito bem, mas devagarinho fomos
melhorando nosso relacionamento. Para isso, fiz muitas leituras, rodas de
conversa e brincadeiras que exploravam o tema diferenças. Mas reconheço
que muitas vezes não soube o que fazer. Ficava observando o Fernando
introspectivo, distante, parecendo não estar conosco em sala.
Num
desses dias, fiz o seguinte comentário a respeito das cartas que recebo
constantemente dos alunos: "Puxa vida! Recebi tantas cartinhas, nas
nenhuma de um menininho chamado Fernando. Será que ele vai escrever para a
professora?". Ele não esboçou nenhuma reação.
No
final do dia, depois de uma aula com a professora de Arte, fui surpreendida com
uma cartinha pequena, assinada pelo Fernando, deixada debaixo de minha
caderneta de chamada: "Te amo".
Ainda
hoje fico emocionada quando me lembro disso. Fui feliz com ele e com outros
meus alunos diferentes. Precisei ter muita paciência e amor. Precisei estudar
para vencer minhas limitações enquanto professora para desenvolver a
aprendizagem de todos. Mas o melhor mesmo é ter uma boa formação e cursos
voltados para o tema, apoio e trabalho conjunto com profissionais da área de
saúde. Viva Fernando!
E
vocês queridos professores, como é a sua relação e da turma com alunos com
deficiência? Vocês têm algum apoio? Como andam trabalhando a aprendizagem deles
em sala de aula? Conte aqui nos comentários!
Um
abraço a todos, um carinho a toda população de Janaúba (MG) e um agradecimento
especial à professora Heley de Abreu Silva Batista por seu amor incondicional a
seus alunos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário que responderei assim que possivel