O
tema da redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) desse ano foi “Desafios
para a formação educacional de surdos no Brasil”. Por um lado, a proposta
de redação fez os estudantes inscritos refletirem sobre um importante assunto
que faz – ou já fez – parte do dia a dia de 344,2 mil brasileiros surdos e
propor uma intervenção, mas, por outro, mostrou uma dificuldade de abordagem
sobre o tema.
A
falta de informação prévia dada aos estudantes sobre o assunto, a falta de
convívio com quem possui alguma perda da audição e, também, a exclusão que os
surdos sentem na pele diariamente contribuem para que esse tema seja tão
inusual (ou “invisível”) não apenas para os jovens que estão saindo do ensino
médio, mas também para as empresas e a sociedade como um todo.
Com
isso, chegamos a um questionamento: por que é tão difícil falar sobre a
inclusão de surdos?
Segundo
o Censo de 2010 realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), 9,7 milhões de brasileiros possuem alguma forma de deficiência
auditiva. Desse número, 2.147.366 milhões apresentam deficiência auditiva severa,
situação em que há uma perda entre 70 e 90 decibéis (dB), e 344,2 mil são
surdos.
Essa
informação já apresenta uma das dúvidas dos estudantes: a diferença
entre surdez e deficiência auditiva. A deficiência auditiva tem diferentes
graus, indo da deficiência leve à severa, enquanto a surdez é a incapacidade de
ouvir sons. Além disso, a surdez pode ter origem no nascimento da criança ou
ser uma consequência de alguma lesão.
(Ainda
de acordo com o Censo de 2010, cerca de um milhão de pessoas com deficiência
auditiva são jovens com até 19 anos)
Quem
é surdo desde o nascimento ou tem deficiência auditiva severa encontra mais
dificuldades em se comunicar e até mesmo se alfabetizar e compreender o
português como língua escrita. Por esse motivo, a comunicação em Língua
Brasileira de Sinais (Libras) – considerada como sua “língua materna” e
reconhecida no Brasil como meio legal de comunicação e expressão a partir de
2002 – é tão importante para uma verdadeira inclusão, seja nas escolas, na
sociedade ou no mercado de trabalho.
Contudo,
essa inclusão ainda depende de alguns complementos, como a presença de
intérpretes na sala de aula, em palestras/seminários e no ambiente corporativo,
por exemplo.
A
inclusão de surdos no mercado de trabalho ainda é um desafio
O
Enem cita um trecho da Lei Brasileira de Inclusão (LBI) que assegura à pessoa
com deficiência o direito à educação.
Essa importante legislação, que entrou em vigor no início de 2016, também
aponta diretrizes e os direitos das PCDs em outras áreas. Dentre elas, o
trabalho.
Pessoas
com perda bilateral, parcial ou total da audição, de quarenta e um decibéis
(dB) ou mais, fazem parte do grupo de candidatos que se enquadram na Lei de
Cotas – legislação que determina que as empresas com 100 ou mais empregados
estão obrigadas a preencher de 2% a 5% dos seus cargos com pessoas portadoras
de deficiência.
De
acordo com dados de 2015 da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), quase
80 mil pessoas com algum nível de surdez trabalham com carteira assinada no
Brasil. Esse número demostra que a taxa de participação da pessoa
com deficiência auditiva no mercado de trabalho ainda é muito baixa,
especialmente se considerarmos o número total de deficientes auditivos no país.
No
ambiente corporativo, além de medidas como a presença de um intérprete de
libras (conforme apontado acima) e o estímulo a interação com os demais
profissionais, as empresas também precisam se adaptar e/ou focar em intervenções,
tecnológicas ou não, que podem melhorar o desempenho da PCD no trabalho,
dado o fato de que essa também é uma medida prevista na Lei Brasileira de
Inclusão.
Um
exemplo de intervenção é o uso de tecnologias assistivas para
surdos (recursos que contribuem para proporcionar ou ampliar suas habilidades
funcionais): aparelhos para surdez, equipamentos (infravermelho, FM), telefones
com teclado teletipo (TTY), sistemas com alerta táctil-visual, entre outras.
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