Pesquisa
da i.Social comprova qualificação das pessoas com deficiência, ratifica o papel
fundamental da lei de cotas e destaca a busca por salários compatíveis, bons
planos de carreira e pacotes atrativos de benefícios. Estudo mostra que altas
lideranças de empresas e profissionais de RH priorizam apenas acessibilidade e
projeto de inclusão, itens que são obrigatórios no mundo corporativo atual.
Cenário divergente reduz a qualidade das vagas oferecidas aos profissionais com
deficiência e gera perda constante de dinheiro.
Luiz
Alexandre Souza Ventura
11
Janeiro 2018 | 13h58
Acessibilidade,
ambiente de trabalho sensibilizado e um projeto de inclusão muito bem
estruturado são fundamentais para qualquer empresa. No atual cenário
corporativo, oferecer recursos acessíveis, combater todos os tipos de
preconceito, compreender a importância da diversidade e dialogar com os
colaboradores têm influência direta no desempenho da companhia.
No
que diz respeito à contratação de pessoas com deficiência, mesmo com o amplo
acesso a informações sobre o assunto e a presença cada vez maior de consultores
especializados, empresas ainda insistem nos mesmos erros e priorizam o
cumprimento da Lei nº 8.213/1991, chamada de lei de cotas, sem considerar
o que realmente buscam os profissionais com deficiência no momento de escolher
um emprego.
Estudo
conduzido pela i.Social comprovou
que essa divergência resulta na baixa qualidade das vagas oferecidas às pessoas
com deficiência, na rotatividade de funcionários, no desequilíbrio no ambiente
de trabalho e, por consequência, na perda constante de dinheiro.
“Há
falta de diálogo e de informação dentro das empresas, que contratam apenas para
cumprir cota e não se preocupam com o pós-contratação. Essas empresas não
conversam com seus colaboradores e não sabem que eles querem”, afirma Jaques
Haber, sócio fundador da i.Social.
Os
pesquisadores fizeram 2.448 entrevistas, em setembro de 2017, com
representantes dos três públicos considerados fundamentais para o processo de
inclusão (1.091 pessoas com deficiência, 1.240 de profissionais de RH e 117 de
líderes de empresas).
O
que as pessoas com deficiência buscam no mercado de trabalho? Imagem:
Reprodução
“Perguntamos
sobre os itens mais importantes para atrair profissionais com deficiência ao
emprego”, explica Haber. “As pessoas com deficiência destacaram salário, plano
de carreira e pacote de benefícios, ou seja, uma boa oportunidade, o mesmo que
qualquer profissional pretende, com ou sem deficiência. São esses os diferenciais
que todos buscam”, diz.
“Quando
fizemos a mesma pergunta aos profissionais de recursos humanos e às altas
lideranças das companhias, a percepção foi totalmente diferente, com prioridade
para acessibilidade, ambiente de trabalho sensibilizado a colaboradores com
deficiência e um programa estruturado de inclusão”, ressalta o especialista.
“Salário, plano de carreira e benefícios não foram citados”, comenta.
Segundo
Haber, a principal reclamação das pessoas com deficiência que buscam emprego é
sobre a qualidade das oportunidades oferecidas, o que confirma o cenário
encontrado pela pesquisa.
Andrea
Schwarz e Jaques Haber comandam a i.Social. Imagem: Divulgação
ESCOLARIDADE
– Um dado que merece destaque no estudo é o nível de escolaridade dos
entrevistados. “O conceito de que pessoas com deficiência são desqualificadas
foi derrubado. Entre aquelas que responderam, 57% estão em alguma etapa do
terceiro grau, com ensino superior completo ou até mestrado em conclusão”,
ressalta o consultor.
QUALIFICAÇÃO
– As reclamações das empresas sobre a qualificação das pessoas com
deficiência que surgem como interessadas nas vagas oferecidas, diz Jaques
Haber, têm base na própria estratégia da companhia para a contratação desses
profissionais, com interesse apenas no preenchimento da cota, e a oferta de
posições com baixos salários ou muito inferiores aos objetivos do profissional.
“É
a avaliação pelo custo, para cumprir a lei, mas gastando pouco, ou o mínimo
possível, o que tem reflexo nas vagas oferecidas, mais baratas para a empresa,
que pagam menos e têm pouca atratividade. Sendo assim, o RH mantém contato com
candidatos menos qualificados, porque são eles que aceitam essas vagas, mas se
relaciona pouco com pessoas com deficiência que poderiam ocupar posições mais
fortes na companhia”, diz Haber.
Conceito
de que pessoas com deficiência são desqualificadas foi derrubado. Imagem:
Reprodução
COTAS
– Quase 90% dos profissionais de RH ouvidos pela i.Social confirmaram que
contratam pessoas com deficiência para cumprir a lei de cotas. “Isso destaca o
papel fundamental dessa lei, que tem sido questionada no processo de inclusão,
e mostra como essa legislação ainda é muito necessária, mas também serve de
alerta porque a atenção centralizada na deficiência, sem avaliar as
qualificações do candidato, resulta na baixa qualidade das vagas oferecidas”.
Por
que empresas contratam pessoas com deficiência? Imagem: Reprodução
PRECONCEITO
– É fato que pessoas com deficiência enfrentam discriminação no ambiente
de trabalho, mas quando isso é questionado abertamente, a tendência é negar sua
existência. A pesquisa i.Social obteve informações que constatam situações de
preconceito por parte de clientes das empresas entrevistas, também por uma
quantidade preocupante de gestores (25%), por líderes e por colegas de
trabalho.
Pesquisa
constata quantidade preocupante de gestores (25%) que têm preconceito contra
pessoas com deficiência. Imagem: Reprodução
BARREIRAS
– A percepção sobre os principais impedimentos para a inclusão de pessoas
no mercado de trabalho também mostrou divergências no estudo. “Pessoas com
deficiência destacam poucas oportunidades, preocupação exclusiva com as cotas e
vagas ruins. Para os profissionais de RH, a falta de acessibilidade e a falta
de preparo dos gestores, mas os especialistas de recursos humanos também
citaram o foco nas cotas, principalmente por imposição da empresa ou dos
gestores, que são os ‘donos’ da vaga, como uma barreira”, comenta Jaques Haber.
O
QUE FAZER? – A pesquisa mostra que a existência de uma lei punitiva, com
multa para quem não cumprir suas determinações, não soluciona a questão por
completo, porque alimenta a percepção de que pessoas com deficiência são caras
e desqualificadas. “Acredito que vale pensar em uma legislação que estimule
essa contratação pelos motivos certos, oferecendo algum benefício, talvez
isenção fiscal”, conclui o consultor.
A
i.Social vai apresentar o estudo nos treinamentos que ministra para seus
clientes e publicará toda a pesquisa, divida em quatro relatórios específicos,
em uma página na internet. Além disso, levará o conteúdo para seminários e
eventos do setor.
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